Sophia Bergqvist – Quinta de la Rosa | Entrevista

Sophia Bergqvist – Quinta de la Rosa | Entrevista

A Quinta de La Rosa pertence a uma família inglesa/sueca que manteve as suas tradições até aos dias de hoje. Situada bem perto da vila do Pinhão, e na margem direita do Rio Douro, produz vinhos do Porto, vinhos brancos e tintos, azeite e até cerveja artesanal. Mas a sua atividade não termina na produção de néctares divinos, mas também pelo enoturismo onde é possível usufruir do Hotel, do Restaurante e de experiências turísticas a par da unicidade da paisagem do Douro. Sophia Bergqvist é atual CEO e o rosto da empresa, com a qual temos o gosto de trabalhar. Vamos conhecer?

 

Num setor tão marcado pela história das marcas, como consideram que a vossa história se destaca?

A minha família tinha ligações ao vinho do Porto desde 1815 quando Dietrich Feueheerd, vindo de Hambourg, chegou à cidade do Porto.  O meu bisavô, Albert, foi à falência durante os anos 30 e, como consequência, decidiu vender a empresa de vinho do Porto, Feueheerd. Felizmente a minha avó Clara recebeu a Quinta de la Rosa com uma prenda de batismo em 1906. Desde cedo ela tomou conta da propriedade e decidiu vender as uvas ao grupo Sandeman.  O meu pai, junto comigo, relançou a Quinta de la Rosa, voltando a dedicar-se à produção de vinho do Porto com a nossa própria marca. Logo a seguir decidimos começar a produzir vinhos de mesa tornando-nos numa das primeiras Quintas do Douro a fazê-lo.

Temos uma grande historia com forte ligação entre as mulheres da família e a paixão pelo Douro.  Clara morou sozinha na Quinta de la Rosa durante as décadas de 50/60/70.

 

Em 1988 conjuntamente com o seu pai decidiu criar a sua própria marca. Quais foram os maiores desafios?

Foi muito complicado.  Fomos uma das primeiras marcas novas de vinho do Porto no mercado desde há muito tempo.  Precisamos de esperar alguns anos antes de termos os vinhos prontos para engarrafar e vender, o que foi um desafio a nível de tesouraria.  Para além disso tínhamos uma empresa no Douro, sem escritório em Vila Nova de Gaia, quase única na altura.  Somos ingleses e eu só tinha 28 anos: uma mulher a lançar uma nova marca do vinho do Porto!  Não tínhamos uma rede do distribuição, nada.

 

O enoturismo também tem sido uma das vossas apostas. De que forma estas experiências são enriquecedoras para o consumidor? Na sua opinião têm impacto no reconhecimento e prestígio da marca?

O Douro é uma das mais belas regiões vinícolas por descobrir do mundo. O enoturismo tem ajudado muito as pessoas a descobrir a qualidade dos vinhos do Douro e a relembra-las quão maravilhoso é o vinho do Porto. Até o início do COVID-19, assistiu-se a um aumento do enoturismo por todo o mundo, à medida que as pessoas procuravam férias diferentes. Tornou-se uma parte vital para chegar ao consumidor, enriquecendo sua experiência e desenvolvendo um relacionamento com ele para que se tornem embaixadores dos nossos vinhos. Na La Rosa procuramos dar aos visitantes uma recepção única, como se estivessem com a família. Algo que se tornou mais difícil de fazer à medida que os números aumentaram ao longo dos anos.

 

Mais recentemente decidiram também abraçar um novo desafio: a produção de cerveja artesanal. O que vos motiva para esta constante inovação e superação de novos desafios?

Este projeto é do meu irmão Philip e do meu filho Kit. Tínhamos um amigo mestre de cerveja artesanal que sempre que nos visitava dizia que seria fácil fazer cerveja usando alguns dos equipamentos de vinho. Jorge Moreira, o nosso enólogo, estava interessado em ver como poderíamos fazer cerveja usando a herança do vinho e do Porto. Por isso pensámos que seria um projeto divertido para se experimentar, enquanto o conceito de cerveja artesanal continua a crescer em Portugal. Tem sido muito mais desafiador do que tínhamos previsto e tivemos que comprar equipamento especifico para a sua produção e engarrafamento (que até à pouco tempo eram alugados). Mas o feedback sobre a qualidade da cerveja tem sido muito bom e encorajador e facilmente encontramos um distribuidor com quem trabalhar em Portugal, a DCNBeers. Então, continuamos…

 

Quais considera ser os maiores desafios da Região e do setor para os próximos 5 anos?

O Douro é uma região cara para se fazer vinhos e Portos e os nossos preços são muito baixos. Precisamos nos concentrar na qualidade dos vinhos e Portos que fazemos e aumentar os preços em geral. O aquecimento global será um desafio, especialmente se os padrões climáticos extremos continuarem. Temos que ter certeza de que o crescimento do turismo é bem gerido e desenvolvido de forma ambientalmente cuidadosa. O Douro não deve ser uma zona de turismo de massa e temos de nos certificar de que todos os desenvolvimentos são feitos a pensar nisso.