Mário Neves | Bairrada: Desafios e Vinhos

Mário Neves Bairrada

Mário Neves | Bairrada: Desafios e Vinhos

Mário Neves é considerado por muitos o Grande Senhor do Vinho Português. Com mais de 40 anos dedicados ao setor vitivinícola, o economista de formação e produtor de profissão colaborou até 2019 com o Grupo Bacalhôa Vinhos de Portugal. Nesta casa, trabalhou sempre em prol da melhoria da qualidade do vinho, da marca, da estratégia e conquistou o respeito e a admiração dos seus colegas e concorrentes.

Atualmente reformado, concentra-se no projeto da família com os vinhos Nelson Neves e prepara-se para juntar todas as recordações num livro de memórias.

Esta é a opinião de Mário Neves sobre a região vitivinícola da Bairrada e os desafios que enfrentam os seus vinhos.

 

Desafios para a Bairrada e os seus Vinhos

Oportunidades da Região Vitivinícola da Bairrada

É bom começar com alguns sucessos recentes, como a maior implantação nacional dos espumantes Baga; o destaque (também nacional) de algumas marcas de vinhos, mais particularmente o dos vinhos brancos; e do crescimento percentual verificado até Maio em termos de exportações (cerca de 30%, quando se verificou um decréscimo dos volumes exportados por Portugal na ordem dos 5%), ainda que determinado por um mercado nórdico de monopólio.

 

Desafios da Região Vitivinícola da Bairrada

Mário Neves

Independentemente destes pontos positivos, a região vitivinícola da Bairrada continua a padecer de alguns males:

  • Cada vez maior abandono de vinhas e consequente redução das áreas plantadas e volume anual produzido;
  • Para este cada vez menor volume de produção, um excessivo número de castas, que torna difícil que os vinhos com a marca da região sejam percebidos pelo consumidor, principalmente o internacional, devido ao grande número de estilos que a mistura de várias uvas cria;
  • Reduzido número de marcas de vinho super premium implantadas tanto a nível nacional como internacional, por isso com preços de venda ao consumidor muito abaixo de um grande número das do Douro e Alentejo, o que não ajuda a imagem da região;
  • Grande quantidade de uvas produzidas e vendidas a preços muito reduzidos, o que inviabiliza a sustentabilidade de muitas explorações e não contribui para um crescimento futuro da produção na região, que permitiria a construção de marcas locais mais fortes, para puxar mais pela marca Bairrada.

 

Por isso, de um ponto de vista pessoal, face à concorrência mundial, considero que não só os vinhos Bairrada, mas também os das outras regiões vinícolas nacionais e, no geral, a generalidade dos produtos de consumo do nosso país, vão ter necessidade de acrescentar muitíssimo mais valor, única forma de, conjuntamente com um maior volume de um mesmo estilo de vinho, poder tentar construir marcas fortes a nível internacional.

O Mundo das Marcas

Independentemente do produto, a realidade dos nossos dias é a de vivermos no mundo das marcas.

Tendo solos e climas ideais para o poder fazer, teremos de investir fortemente a nível superior, no ensino da viticultura (que permitindo também mais investigação) nos aproxime de alguns dos grandes casos recentes de sucesso vitivinícolas a nível Mundial: Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, Barolo e Barbera do Piedmont, Malbec da Argentina, Godellos de Valdeorras, Albarino das Rias Baixas, Tempranillo da Ribera do Douro e mesmo Rioja, entre outros.

Só com esse maior conhecimento de viticultura poderemos tentar copiar um pouco o sucesso global de Itália: mais de 400 uvas locais, cada uma delas quase exclusiva de uma só região, com exceção da Vermentino, produzida na Sardenha, Tuscania e Sicília e da Glera obrigatória para o Proseco (e uma produção de cerca de 400 milhões de litros) por todo o norte do país.

Mas, como fruto da investigação da grande maioria delas, conhece-se bem o solo, o clone, a altitude e o número de cepas por hectare para cada uma, de modo a sustentar a viabilidade económica do investimento na sua produção.

Só assim foi possível atingir valores acima de 1,5 milhões de euros por hectare nas regiões de Barolo e Barbaresco, mais de 400.000 em Verona, 700.000 em Cartize (o Prosecco mais famoso), mais de 1 milhão em Brunello, entre outros exemplos.

Mário Neves,

Vinhos Nelson Neves