A Retrospetiva de 2022

Vindimas concluídas, cestos lavados e vinhos “guardados”.

Também como produtor, fico a pensar que 2022 ainda não terminou e tento fazer uma perspetiva para 2023 que não parece fácil.

Nestas últimas duas campanhas vitícolas, com resultados desejáveis marcados por uma crise sanitária e de saúde pública, motivada pela COVID 19, foi efetivamente um período que deixou e continua a deixar marca negativa, provocando momentos de ansiedade e preocupação a nível da sociedade e da economia.

2022 perspetivava-se diferente. No entanto, e ainda mal tinha iniciado a nova campanha, já se avizinhava uma nova preocupação, efeitos de uma crise climática real que se refletiu na seca extrema em que o país se encontrava, provocada pela pouca e, em certos casos ausência, de precipitação durante o inverno.

José Domingues

Foi assim o início desta campanha, que se manifestou até ao final pela ausência de chuvas significativas, provocando, embora haja gente que o contradiz, quebras de produção em vastas áreas vitícolas do território nacional. Não pelo número de cachos nas videiras, mas sim pelo fraco crescimento dos bagos, somando o escaldão dos mesmos, mais significativo numas regiões que noutras, e por um escasso rendimento em mosto, que também foi mais ou menos acentuado em função das castas.

Uma Instabilidade Mundial Persistente

Mas não foi tudo. Mal tinha iniciado o ciclo vegetativo da vinha, passamos a um novo ciclo de crise, resultado da invasão militar da Ucrânia por parte da Rússia, guerra que se arrasta dia após dia, mês após mês, e que parece persistir.

A instabilidade económica, financeira e política é mundial, e tem contribuído para mais uma escalada no aumento dos preços dos combustíveis, da energia, dos fertilizantes, dos fitofármacos, do papel, do vidro e de outros materiais sem um fim à vista.

Como se não basta-se temos ainda a escassez e roturas de stock como acontece constantemente com as garrafas de vidro, que levam os produtores à exaustão na procura de soluções para honrarem os seus compromissos.

Compromissos que um mercado tão competitivo como o dos vinhos não perdoa, o que fez com que, contra a sua estratégia, alguns produtores lançassem no mercado vinhos rosé em garrafa escura, pela falta da branca (transparente) normalmente e por conceito de produto, usada neste tipo de vinhos.

O Inevitável Ajuste dos Preços

Consequência inevitável? A necessidade de ajuste dos preços dos vinhos no mercado.

No entanto, o incremento constante da taxa de inflação que já está em valores acima dos 10%, irá gerar ainda mais asfixia financeira nas famílias, que com toda a certeza, contribuirá para uma diminuição drástica do poder de compra das mesmas.

Objetivamente o consumidor, dará preferência aos produtos de primeira necessidade em detrimento do nosso prestigiado vinho, ficando o setor com mais uma situação de perda.

Como se resolve?

Humanamente era bom que a guerra acabasse. Seria sem dúvida uma luz de esperança para a sociedade e para as economias.

Do ponto de vista financeiro e económico, num médio e longo prazo, seria interessante que se cativasse investimentos nas áreas em que somos extremamente dependentes, tanto no setor primário como na transformação.

Por outro lado e no curto prazo, ver-se-ia com agrado um plano, por parte do governo, de apoio extraordinário à fileira do vinho importante na economia nacional e tão longe leva o nome de Portugal.

José Domingues,

Terrunho Wine