Dr. Arlindo Cunha – CVR Dão | Entrevista

Arlindo Cunha

Dr. Arlindo Cunha – CVR Dão | Entrevista

Atual Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, vitivinicultor e engarrafador da região, Professor Doutor Arlindo Marques Cunha apresenta-nos a sua versão holística sobre a região e as suas tendências.

 

Qual o panorama atual desta região vitivinícola?

A Região Demarcada do Dão foi criada por Decreto Régio de 18 de setembro de 1908, consequentemente, ainda no tempo da Monarquia. É, juntamente com a Região dos Vinhos Verdes, a mais antiga a seguir à Região Demarcada do Douro. Durante muitos anos liderou o segmento de mercado dos vinhos maduros de qualidade em Portugal, especialmente dos tintos. Como todas as regiões teve os seus altos e baixos. Podemos dizer que o Dão está a viver uma nova vida desde praticamente o início deste milénio, depois de um período de relativo retrocesso nas décadas de 1980 e 1990. Nos últimos 5 anos a quantidade de vinho certificada aumentou cerca de 50%.

Os vinhos do Dão gozam hoje de uma imagem de diferenciação e prestígio por parte da crítica especializada. É um trabalho que se deve aos profissionais do sector na Região: produtores, cooperativas, empresas, enólogos, viticólogos, etc. E que, obviamente tem que continuar, pois é preciso estar sempre presente no mercado com uma política continuada de promoção, para alavancar a qualidade que os produtores têm conseguido.

 

Como é que a região se tem adaptado às novas exigências do mercado?

Essa adaptação tem vários planos, sendo o primeiro e mais importante a preservação da qualidade dos diferentes tipos de vinhos produzidos na região. Essa aposta tem sido ganha, quer na vinha, através da reestruturação das áreas de vinha, quer na adega, através da utilização das tecnologias adequadas. Realizado esse objetivo, as empresas têm de ir ao encontro das preferências dos diferentes mercados, as quais estão sempre em evolução. A chave do sucesso dessa adaptação ao mercado está em nunca quebrar as pontes com a tipicidade dos nossos vinhos que constituem como que o seu ADN: vinhos frescos, equilibrados, elegantes, com carácter, gastronómicos e com grande capacidade de guarda.

 

Que balanço faz do impacto do Enoturismo?

O enoturismo é um mercado com elevadíssimo potencial, mas está ainda a dar os seus primeiros passos. Com o objetivo de desenvolver esta atividade criámos há 5 anos a Rota do Vinho do Dão, que nesta primeira fase é, essencialmente, um instrumento de Comunicação das quintas e adegas. Temos algumas unidades enoturísticas de altíssima qualidade, mas temos condições para alargar a oferta, adequando-a a diferentes segmentos do mercado. A pandemia veio desacelerar a evolução que estávamos a ter, mas estamos a preparar-nos para recuperar logo que a situação sanitária o permita.

 

Quem são os principais mercados consumidores dos vinhos do Dão?

O mercado interno representa entre 55 e 60% das vendas. Destas, cerca de 75% são feitas através das redes da chamada Grande Distribuição. Os restantes 25% são vendidos nos restaurantes, garrafeiras e lojas de produtos gourmet, ou seja, no canal HORECA.

Do total exportado, 40% vai para Estados Membros da União Europeia e os restantes 60% para Países Terceiros. Na U.E. destacam-se a França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Polónia. Nos Países Terceiros, temos os Estados Unidos da América, o Brasil, o Canadá, a China, a Suíça e Angola.

 

Como é que a CVR tem colaborado na promoção e divulgação dos vinhos da região?

Uma das mais importantes funções da CVR do Dão, logo a seguir à da certificação, é a da promoção genérica dos vinhos da Região Demarcada. No plano interno realizamos habitualmente eventos como o Dão Primores e Gala Os Melhores do Dão, em Viseu, o Dão Capital, em Lisboa e o Dão Invicto, no Porto. Além disso participamos e apoiamos os nossos produtores em eventos organizados por entidades especializadas neste tipo de comunicação. Importa ainda referir as parcerias da CVR com alguns Municípios em eventos de sua iniciativa para promoção dos respetivos territórios através do vinho.

No plano dos mercados externos, trabalhamos em parceria com a VINIPORTUGAL, no quadro do Protocolo de colaboração que celebrámos em 2014 e no quadro do qual a CVR cofinancia a participação produtores do Dão em eventos promocionais nos mercados que mais nos interessam. Assim, para além das frequentes visitas à nossa região de comitivas de compradores e jornalistas de vários países, temos participado em provas e outras ações promocionais realizados em Países Terceiros e da União Europeia, no âmbito de candidaturas nossas a programas cofinanciados pelos Fundos Europeus.

 

Quais serão as próximas tendências na região nos próximos anos?

Acima de tudo, manter o patamar de qualidade que conseguimos alcançar, preservar as nossas fantásticas castas tradicionais, continuar a reestruturar as vinhas e a formar os profissionais de  que precisamos para todas as dimensões da fileira do vinho, deste a viticultura, à enologia, à gestão ou ao enoturismo. Além disso, importa manter a capacidade de comunicação com o mercado, lendo os seus sinais e reagindo quanto antes. Por outro lado, estamos a desenvolver com o Ministério da Agricultura, o Instituto Politécnico de Viseu e as principais empresas e cooperativas uma agenda de investigação, procurando, designadamente, ensaiar as implicações das alterações climáticas no comportamento das diferentes castas e respetivos vinhos. Creio que o sucesso do futuro passa em larga medida por este trabalho de investigação e pela capacidade de antecipar o futuro.