
17 Fev Francisco Mateus | Presidente da CV Regional do Alentejo – Entrevista
Francisco Mateus, Presidente da CVRA
A HMW apresenta a entrevista realizada a Francisco Mateus, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo.
Presidente desde 2o15, Francisco Mateus tem um olhar realista para com as dificuldades que originaram da pandemia, mas está convicto de que os produtores estão otimistas para 2023, visto que não haverá aumento dos custos de produção porque estes aconteceram em 2022. Leia a entrevista em detalhe.
Entrevista
Qual o balanço que faz da Região do Alentejo no ano transato?
Apesar de ainda não termos um balanço final do ano, podemos avançar que foi muito positivo, especialmente no que toca à exportação. Os dados até novembro dizem-nos que batemos recordes com os vinhos alentejanos a venderem 73,2 milhões de euros no estrangeiro – um aumento de 13,5% em valor e 11,5% em volume.
Já no mercado nacional, as vendas atingiram os 1070 milhões de euros até setembro, ou seja, a três meses de fechar o ano, já contabilizávamos mais 20 milhões de euros do que tínhamos tido em 2019, o que consideramos extremamente positivo.
No que diz respeito à produção, foi um ano difícil em termos climáticos, muito seco e que penalizou as vinhas com acesso limitado a água para rega, pelo que existiu uma ligeira diminuição da quantidade de uvas.
De que forma é que a região tem ultrapassado os obstáculos dos últimos anos, tais como pandemia, guerra, aumento de custos, seca, entre outros?
A seca no Alentejo não é um problema de agora, mas tem tido outra expressão devido às alterações climáticas. No entanto, as práticas que promovemos, através do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, não só poupam e armazenam água, como tornam os sistemas mais resilientes a um clima mais seco e quente. Entre muitos exemplos, temos os instrumentos de controlo e monitorização, como o caudalímetro, ou o software de rega de precisão apoiados por drone ou dados de satélite. As crises logística e energética são outro dos grandes desafios que afetam a economia, o poder de compra e, naturalmente, o sucesso de muitos negócios, pressionando os fatores de produção e levando à redução das margens para as empresas.
Quais são os principais mercados consumidores dos vinhos do Alentejo e de que forma é que se têm adaptado às novas exigências?
O Brasil é o nosso principal destino de exportação e representa mais de 20% das nossas vendas. A Suíça, Estados Unidos da América, Polónia, Angola, e Canadá também são dos mercados que mais compram vinhos alentejanos. Já no que diz respeito aos mercados que mais aumentaram as vendas, podemos destacar Angola, Brasil, Colômbia, EUA e Letónia.
A inflação tem impacto a nível global, mas há países onde este aumento de preços se sente de forma diferente. Por exemplo, o mercado angolano passou por um período de incapacidade económica e nós nunca desistimos deste mercado, mantendo a nossa promoção. Certamente, um dos fatores que originou à recuperação significativa da exportação para Angola.
Como é que a CVRA tem colaborado na promoção e divulgação dos vinhos da região?
Somos os responsáveis pela promoção dos Vinhos do Alentejo, tanto no mercado nacional, como em mercados internacionais. O Alentejo exporta para mais de 100 países, por isso canalizamos os nossos recursos na promoção da marca “Vinhos do Alentejo”, associada à qualidade dos vinhos da região e à sustentabilidade. Acresce ainda o trabalho individual feito por cada um dos produtores. Apostamos em comunicar o que é o Alentejo, as características e singularidades, o que se faz de diferente, procurando que a região ganhe reconhecimento e notoriedade além-fronteiras.
Quais serão as próximas tendências da região nos próximos anos?
Não temos o poder de travar o contexto económico, energético e geopolítico, que se refletirá num ano muito desafiante. O que podemos fazer é continuar a investir na implementação de práticas sustentáveis na produção, para que os nossos produtores adaptem as suas vinhas às novas condições climáticas.
Sentimos que estamos no caminho certo. De ano para ano, temos vendido cada vez mais vinho, em quantidade e em valor. Temos um programa de sustentabilidade que reflete o que de melhor se faz a nível mundial. Temos produtos ímpares como o vinho de Talha e vinho de qualidade que, passo a passo, está a ganhar posição nos mercados internacionais.
Francisco Mateus