A Crescente Procura dos Vinhos Algarvios
Diogo Pereira Coutinho é o Diretor da Adega do Convento do Paraíso, uma propriedade centenária que hoje em dia é um ponto de referência na região vitivinícola do Algarve. É um território repleto de história e mistérios que remontam à invasão dos Mouros e à subsequente reconquista por parte do Reino de Portugal.
Esta peça, cortesia de Diogo Pereira Coutinho, é um exclusivo da newsletter #09 da HMW, que é dedicada à região dos vinhos algarvios.
Como é que tem sido a evolução da região?
O Algarve tem vivenciado uma notável evolução como região vitivinícola ao longo dos últimos anos. Esta região, famosa pelas praias deslumbrantes e clima ensolarado, possui uma história na produção de vinho rica e fascinante. Embora o cultivo de vinhas no Algarve remonte à antiguidade, foi a partir do século XII que a região floresceu como um importante centro de produção de vinho. No entanto, ao longo dos séculos, a viticultura enfrentou desafios que resultaram na redução da produção vinícola e num quase esquecimento da história dos vinhos do Algarve.
Nos últimos anos, temos assistido a um crescente interesse pela viticultura na região. Agricultores e produtores de vinho redescobriram o potencial único do terroir algarvio e investiram em técnicas modernas de cultivo e produção. Com o passar do tempo, a região do Algarve voltou a ganhar destaque no panorama vitivinícola português, oferecendo vinhos distintos e de alta qualidade.
Neste contexto, a Adega do Convento do Paraíso emerge como um dos protagonistas desta nova fase dos Vinhos do Algarve. Localizada na Quinta de Mata Mouros, junto à margem sul do Rio Arade, e nas proximidades da mítica Xelb, hoje Silves, uma das cidades mais opulentas do al Andaluz, antiga capital do reino dos Algarves. A Quinta Mata Mouros recebeu o seu nome devido às suas origens históricas e geográficas. Acredita-se que o nome possa ter surgido devido à presença das tropas avançadas Mate Mor durante a Reconquista cristã ou à existência de uma mata que pertencia aos mouros. Documentos antigos confirmam que o local era referido como “Matta de Mouros”, preservando assim essa ligação ao passado e à rica história da região.
No século XII, após a conquista de Silves pelos cristãos, foi construída uma ermida no local da Quinta Mata Mouros. No início do século XVI, D. Fernando Coutinho, bispo do Algarve, fundou o Convento de Nossa Senhora do Paraíso, que permaneceu até ao século XIX e cuja estrutura principal ainda está preservada.
Após a saídas das ordens religiosas, a propriedade foi adquirida por privados. Há já várias gerações que a propriedade se encontra nas mãos da família Quevedo Pessanha. Atualmente, o proprietário é Vasco Manuel de Quevedo Pereira Coutinho.
Nos finais dos anos 90, a Comissão Vitivinícola do Algarve empenhou-se na promoção da região como uma área de excelência na produção de vinhos. O responsável por esta comissão, uma pessoa extremamente dinâmica, decidiu visitar a família proprietária da Quinta de Mata Mouros e lançou-lhes o desafio de produzir vinhos de elevada qualidade. Reconhecendo o lugar como uma das propriedades mais antigas e emblemáticas do Algarve, acreditava, que a quinta poderia servir como exemplo para outros produtores da região.
Aceite o desafio, foi decidido que a quinta, mantendo a sua função principal como residência familiar e continuando a produzir uma variedade de frutas, dedicar-se-ia também à produção de vinho. O objetivo era criar vinhos que aproveitassem ao máximo as características singulares e extraordinárias do terreno e do microclima da região de Silves. Com a combinação de um clima mediterrâneo, solos argilo-calcários e a influência refrescante do oceano Atlântico, a quinta tem criado vinhos que capturam a essência única do Algarve.
A vinha da Quinta de Mata Mouros está situada no terreno mais alto da propriedade totalizando 12 hectares. Entre castas nacionais e internacionais, temos 5 variedades de tintas e 2 de brancas, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Aragonês, e Sousão, Arinto e Alvarinho. Em fevereiro de 2023 concluímos uma segunda plantação de vinha de mais 12 hectares. A decisão de aumentar a vinha surge da crescente procura pelos vinhos do Algarve e em especial pelos vinhos da Adega do Convento do Paraíso. Existe um especial interesse na procura por vinhos brancos e rosés, devido ao clima quente do Algarve e à gastronomia mais leve. Desta forma, e decididos a ir ao encontro das expectativas, na segunda vinha plantamos Touriga Nacional, Arinto, Alvarinho, Sauvignon Blanc e de futuro Negra Mole, a casta autóctone do Algarve e sem dúvida a bandeira dos vinhos algarvios.
A adega tradicional da quinta resulta do compromisso de preservar as edificações de origem, implantando aí os processos mais sofisticados de produção vinícola. Ficou decidido manter o lagar de pisa tradicional e a prensa vertical, ao mesmo tempo que se utilizavam equipamentos da mais moderna tecnologia. A produção anual na Adega do Convento do Paraíso é de aproximadamente 40 mil garrafas, refletindo um compromisso sólido com a qualidade em vez da quantidade.
Além da produção de vinhos, a região do Algarve tem-se destacado pelo crescimento do enoturismo. Cada vez mais visitantes têm a oportunidade de explorar as vinhas e adegas locais, degustar vinhos autênticos e desfrutar da beleza natural do Algarve. A Quinta de Mata Mouros tem abraçado essa tendência, oferecendo experiências enoturísticas enriquecedoras, onde os visitantes podem conhecer a nossa história, visitar as vinhas e saborear os melhores vinhos algarvios, incluindo o vencedor da Grande Medalha de Ouro do XIV Concurso de Vinhos do Algarve 2022, o nosso Convento do Paraíso Rosé 2021.
Diogo Pereira Coutinho